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Mulher rural

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A pandemia, em certos casos, ativou a vivência no meio rural. Quem conseguiu, se isolou no interior dos pampas para fugir do vírus. Essa, inclusive, foi a minha realidade. Atualmente, longe da agitação, só percorro o trajeto para a cidade quando é imprescindível, apesar de já estar vacinada. E confesso: estou gostando. Logo eu, que, quando criança, não era adepta do silêncio e da calmaria dos campos. Por ser originária de município de pequeno porte, fui criada muito próxima da campanha e detestava ficar longe da vida urbana. Havia a necessidade de dormir cedo, pois a luz gerada por velas ou lampiões de querosene era escassa. Banho quente, só após esquentar muita água no fogão à lenha. Geladeira era um luxo e, se quisesse roupa passada, precisava encarar o ferro à brasa. O rádio rapidamente engolia a bateria das pilhas, deixando sempre em atraso as notícias. As estradas eram péssimas e o deslocamento não era tão simples.

Geralmente, dependíamos de uma figura masculina para qualquer viagem, mesmo que diminuta. Assistimos a mães, tias e avós esperando por alguém que as transportasse. Tendo em vista este cenário, lutei e luto até hoje por independência. Não apenas a minha, mas a das minhas filhas e de todas as que cruzaram e continuam a passar no meu caminho. No presente, percebemos mudanças que interferem diretamente no viver rural. Os carros, por exemplo, praticamente voam, dirigimos tranquilamente e o transporte público se aproximou do panorama agrícola.

Retornar ao campo, de onde um dia saí, está fazendo com que eu conheça um pouco mais da realidade de mulheres que enfrentam a rotina campeira. Vejo senhoras que cultivam flores, frutas, hortaliças e elaboram iguarias de deixar qualquer um com água na boca. São pães, queijos, geleias, doces e um infinito de sabores. Por vezes, basta um pouco de farinha, fermento e ovos para os processos mágicos. As mais jovens cuidam dos filhos e já sabem o valor da terra, aprendendo, no cotidiano, que zelar pelo meio ambiente trará, para todos, um futuro melhor. Situações que, certamente, nossas antecessoras, com mais dificuldades, praticaram.

É muito bom saber que agora temos a forte presença das agentes comunitárias do nosso SUS em rincões mais difíceis de serem acessados. Outra aparição, não menos importante, é a da Emater que, por meio de atividades extensionistas, promove a inclusão das mulheres para o desenvolvimento de habilidades que garantam sua participação nos processos de gestão da unidade de produção familiar.

Precisamos contribuir para a criação e efetivação de políticas públicas voltadas a realidade dessas mulheres, favorecendo a autonomia produtiva no meio rural. Percebemos que elas estão ocupando terras, plantando e colhendo, mas ainda enfrentam percalços. Muitas continuam encarando as madrugadas frias para retirar o leite das vacas, fabricando o próprio sabão e desafiando a fumaça de tachos na confecção dos doces. Assim como as mulheres urbanas, percebemos que a distribuição do trabalho doméstico recai, na maioria, sobre elas. Em alguns lugares mais distantes, o sinal de telefonia é precário. Inúmeras não conseguem continuar os estudos, o que possibilitaria que contassem com novas tecnologias para que, além de preservar o meio ambiente, tivessem mais conforto. São vidas que nos inspiram a sermos cada vez mais fortes na luta por equidade de gênero.

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